Às leitoras e aos leitores...

O intuito deste blog é facilitar a comunicação, fazendo circular a informação e promovendo conexões de idéias e pessoas que se interessam pela capoeira angola.
As opiniões são pessoais e, portanto, de minha inteira responsabilidade, não correspondendo necessariamente a qualquer posição oficial do Grupo Nzinga.
Peço licença às mestras e mestres, de hoje e de sempre, para humildemente participar nessa roda. Sou um aprendiz. Procurarei mantê-lo atualizado e espero que seja de algum jeito útil.
Um abraço!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pra inglês ver?


O Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) lançou este ano um número de sua revista "Textos do Brasil" dedicado exclusivamente à capoeira.

Feliz ou infelizmente, não sei ao certo, trata-se de uma publicação voltada para a divulgação da cultura brasileira no exterior.

Digo isso porque muita gente, mas muita mesmo, no próprio país ficaria mais do que feliz de ter acesso a esse material, que no entanto não tem sido muito divulgado por aqui.

Neste número 14, um time de bambas aborda uma série de aspectos da capoeira.

A seleção vai dos "desafios contemporâneos", tema do Mestre Luiz Renato Vieira com Matthias Assunção, aos "aspectos mítico-religiosos", por Pedro Abib, passando pelo "ritual da roda", de Rosa Maria Simões.

São 18 textos, dos quais destaco ainda a entrevista com minha Mestra Janja. Imperdível.

Fica então essa dica para quem se interessar. O endereço na internet é:


Uma abraço!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Tem alguma coisa errada com a capoeira angola?

Nunca na história a capoeira angola foi tão difundida.
Brasil afora e pelos quatro cantos do mundo, hoje é possível encontrar angoleiras e angoleiros de valor.
Também não tem paralelo a quantidade de informações agora disponíveis, pelos mais variados meios, aos interessados na arte.
São livros, revistas, CDs, DVDs, teses e mais.
Na internet, os grupos se organizam para estar on-line, divulgando e promovendo suas atividades.
É raríssimo um evento cuja programação não inclua debates, palestras, exposições, lançamentos e outras formas de difusão da informação.

Onde fica a relação mestre-aprendiz, mais velho-mais novo, fundamento da transmissão do saber ancestral, em meio a essa avalanche?
Eu pergunto porque venho reparando, aqui e acolá, alguns sinais que me deixam com a pulga atrás da orelha.
Pra exemplificar, cito acontecimentos recentes.
Alguns eu mesmo presenciei.
Outros, me contaram.
Não vou revelar nomes.

Um deles envolveu um velho mestre baiano, muito conceituado e respeitado.
Convidado a lançar seu CD, organizou-se uma roda em sua homenagem.
E não é que aí mesmo um capoeirista colocou o dedo em riste na cara do mestre, desdenhando sua autoridade, seja como mestre, seja como pessoa idosa?

Outro episódio aconteceu com um conhecido mestre carioca, admirado por sua índole e trabalho.
Fora do país para uma série de workshops, como gostam de dizer por lá, só então ficou sabendo que haveria uma deserção em massa de seu grupo.
Até aí tudo bem. Divergências acontecem.
O problema é que não o trataram como qualquer mestre, por ser mestre, merece.

Pra não alongar demais o papo, um último caso, em que um famoso mestre baiano jogou com um novato.
Resumindo, acossado por mãos na cara e outras artimanhas muito além da sua capacidade de reação, o coitado mal conseguiu ficar em pé na roda, saindo dali visivelmente humilhado.

Fiquei pensando com meus botões: quais os valores éticos que a capoeira angola está semeando?
Muitos gostam de salientar uma certa ética da malandragem, da malícia e da falsidade.
Tudo bem.
Mas será que ela vale contra o forte e contra o fraco?
Contra o jovem e contra o velho?
Na roda e na vida?
Sempre?

Quem nunca ouviu estórias de desonestidades entre capoeiristas?
Inclusive de mestres ou professores com seus próprios alunos!

Uma coisa que pode estar acontecendo é que a questão comercial, a ganância para ocupar novos "mercados", esteja levando algumas pessoas a passar por cima de certos valores de convivência e respeito, indo contra a própria essência comunitária da capoeira angola.
Talvez a própria velocidade da expansão, nem sempre acompanhada em maturidade pelos angoleiros e angoleiras em formação, seja um fator.

Não sei o que vocês pensam.
Será que os exemplos que eu mencionei são motivo para preocupação?
Qual o significado de valores como justiça, liberdade, ancestralidade e solidariedade para angoleiros e angoleiras de hoje e, principalmente, de amanhã?
No mínimo, acho que cada grupo e cada capoeirista pode pensar sobre qual capoeira angola quer para si.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Do cultural ao multi-cultural

Quero comentar o livro The Hidden History of Capoeira: a collision of cultures in the Brazilian battle dance, de Maya Talmon-Chvaicer (University of Texas Press, 2008).

O título em português, se ele vier a ser editado em nossa lingua, poderia ser "A história oculta da capoeira: uma colisão de culturas na dança-luta brasileira".

Ele chama a atenção pois é o primeiro no gênero que vai por uma linha histórica-cultural-social, combinada com pesquisa antropológica, como diz a autora.

Eu acho essa abordagem muito interessante, pois ajuda a entender de uma maneira mais completa as origens de tantas coisas na capoeira. Aliás, eu mesmo já escrevi aqui no blog sobre a conexão entre cultura banto-kongo, aús e bananeiras, por exemplo.

O livro tem muita informação interessante e dá seguimento a uma das "tradições" atuais da capoeira: é provável que os Estados Unidos sejam o país onde mais se publica sobre o tema da capoeira, principalmente juntando muita pesquisa (sem desmerecer o fato de que o livro tem origem na tese de mestrado de Maya, defendida na Universidade de Haifa, Israel). Na área acadêmica, talvez nem o Brasil rivalize.

É evidente que isso acontece na proporção em que a arte conquistou corações, corpos e mentes ao norte do Rio Grande, aquele lá da fronteira com o México...

A gente deve estar conscientes de que isso tem conseqüências sobre a própria história da capoeira. Seja no que vem pela frente, a forma como ela será praticada e entendida no futuro, ou na maneira como o passado é contado e interpretado.

Cada pessoa que começa a aprender a capoeira angola vai combinar, de uma maneira única, sua bagagem pessoal com os ensinamentos tradicionais, ancestrais, passados por seu mestre.

Consigo, como sabemos, cada pessoa traz não apenas seu jeito de ser, sua personalidade, mas também sua cultura, herança da vida em sociedade. E as comunidades da capoeira são, - e com certeza serão, cada vez mais multi-culturais.

Nada mais natural, aliás, já que a capoeira certamente tem em si diversas influências culturais, que se fertilizaram mutuamente no Brasil da diáspora africana, assim como em contato com a matriz européia-portuguesa e a das nações indígenas que viviam nesse território.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Matéria histórica

Eu ainda nem tinha nascido. No dia 11 de fevereiro de 1967, a revista Realidade, que nem existe mais, publicou uma matéria importante sobre a capoeira.
O personagem principal é o saudoso Mestre Pastinha, cujo aniversário de passagem se celebra hoje.
Nela, o Mestre teve a rara oportunidade de falar um pouco mais sobre suas idéias e história.
Na reportagem, também há espaço para o Mestre Bimba, o não menos célebre criador da Luta Regional Baiana. (Detalhe: ao lado de Bimba, na última foto, de camisa azul, Mestre Bigodinho, como o povo de angola o chama, ou Mestre Gigante, assim chamado pelo pessoal da capoeira regional)
O texto é de Roberto Freire, psicólogo, já falecido, que viria a criar a somaterapia, à qual incorporou elementos da capoeira angola.
Tomo a liberdade de reproduzir essa matéria histórica aqui, até porque penso que não é tão fácil encontrá-la por aí.
Que seja uma pequena homenagem à memória dos mestres da capoeira, em especial, claro, do grande Mestre Pastinha!


(clique para ampliar)










Lembrando Mestre Pastinha

Hoje, 13 de novembro, há exatos 27 anos, morreu Vicente Ferreira Pastinha.
A parte conhecida de sua história é bastante divulgada, não carecendo repetir aqui.
Não era o único grande capoeira de sua época, contemporâneo que foi de lendas como Waldemar, Espinho Remoso, Traíra, Paulo dos Anjos e muitos outros.
Contou que aprendeu a capoeira com um velho africano de nome Benedito, do qual praticamente nada sabemos, mas que sem dúvida também era um grande mestre.
Mestre João Pequeno, discípulo mais antigo de Mestre Pastinha na atualidade, certa vez, perguntado sobre o que torna alguém um mestre de capoeira angola, disse, com toda sua genial e simples sabedoria: "O que faz o mestre são seus alunos".
Essa frase nunca saiu da minha cabeça e penso que em grande parte explica a grandeza de Mestre Pastinha.
Em vida, não lhe faltaram os detratores, os invejosos, os que não souberam compreender sua mensagem e seu valor. Pior ainda, até mesmo após sua morte houve aqueles que tentaram diminui-lo perante a história.
Em vão.
Mestre Pastinha, por seu exemplo, dedicação e obra, alcançou estatura única.
Mais do que isso, tantos anos depois de sua chegada ao mundo dos ancestrais, as sementes que deixou, e que se transformaram em novas árvores, são a maior prova de sua dimensão maior.
Obrigado Mestre!
Obrigado por tanto que nos deixou.
Aqui, do lado de cá da kalunga, continuaremos nos esforçando para merecer o seu legado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Poder de cura

Inquice Lumueno, do povo Vili, região de Loango
(Museu Etnológico de Berlim)

Guarda dentro de si substâncias medicinais.
Cada detalhe tem um significado.
A tartaruga pode indicar a capacidade de transitar tanto no mundo dos vivos quanto no dos mortos, pois um ser anfíbio tanto mergulha quanto caminha fora da água.
Simbolicamente, a linha kalunga, que separa esses mundos, está sob as águas.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Remédios de Aruanda

Ai, ai, ai ai
Quando eu cheguei de Aruanda
Trouxe muitos remédios
Dentro da minha capanga
Eu não tenho o livro comigo. Sequer me lembro do nome. O que li pertence à Mestra Paulinha e estava em Salvador. Mas me lembro bem da entrevista com a Makota Valdina Pinto, pessoa de imenso conhecimento da cultura afro-brasileira.

Lá, Makota Valdina chamava a atenção para a importância de que as pessoas saibam por quê cantam certas músicas, em certas situações. Ela se referia de perto à religião, e citou como exemplo o refrão dessa música no começo do post, que por sinal faz parte do repertório do Grupo Nzinga.

Acho que entendo a preocupação da Makota. Certa vez, o Mestre Poloca ensinou que é normal não entendermos a princípio muitos dos códigos, rituais, letras e mandingas da capoeira, mas que é importante descobrirmos esses significados, sobretudo saber o que significam para nós mesmos.

No caso da nossa música aqui, sei que também é cantada em terreiros de candomblé e umbanda. E além de falar de uma forma poética da herança africana no Brasil, com certeza sopra muitos segredos.

Uma coisa que acho interessante sobre essa letra é a palavra "remédios". Aliás, já perguntava a Makota Valdina Pinto: "Por que remédios?"

Acredito que um pedaço da resposta pode estar, mais uma vez, em nossos ancestrais banto do Kongo. Na religião daqueles povos, os inquices, ou minkisi (plural de nkisi), são figuras sagradas, que passam por uma preparação ritual na qual adquirem poder curativo para as mais variadas enfermidades, físicas e espirituais. São, literalmente, remédios.

Seja qual for a resposta mais completa, minha convicção é que uma cultura que deixou uma marca tão profunda na religião (candomblé, umbanda), na música (samba, maracatu), nas folias (congada, capoeira), e muito mais, com certeza corre fundo na alma desse país. E pode aflorar a qualquer momento, com toda sua força e beleza.

sábado, 1 de novembro de 2008

Lutas da angola

Grupo Nzambi e convidados (sou o de chapéu)

No começo, era a briga pela sobrevivência.
A resistência contra a injustiça, diante de muita violência e sofrimento.
Rasteiras e cabeçadas contra a opressão.
Perseguição. Repressão. Dor.
A capoeira sempre sobreviveu.
E venceu muitas batalhas titânicas.
Pela liberdade, pela igualdade, por respeito.
Golpes, esquivas, mandingas e gingas.
Palavra, pensamento, filosofia e discussão.
Armas de ontem e de hoje.

Quais as lutas atuais da capoeira?
Com certeza, contra o racismo, tão real e dissimulado nesse Brasil.
Sem nenhuma dúvida, pelo reconhecimento do valor do saber tradicional.
Por uma velhice digna para os velhos mestres.
Pelo respeito à diversidade religiosa.
Etc. etc.

Dentre tantas lutas fundamentais, destaco uma, o combate ao machismo na própria capoeira.
Nenhuma surpresa, suponho.
Todo mundo sabe que essa é uma das bandeiras do Grupo Nzinga, um dos poucos no universo da capoeira angola com efetiva liderança feminina, sob a batuta de Mestra Paulinha e Mestra Janja.

Pra falar do tema, aproveito um material que preparei para um bate-papo do
qual participei, sobre o papel da mulher na capoeira.
Foi no aniversário do Grupo Nzambi, da Mestra Elma, outra exceção que confirma a regra, em maio deste ano, aqui mesmo em Brasília. (Pus a foto aí em cima)

Primeiro, pego emprestada (sem autorização prévia) uma frase da Mestra Janja:


"Partindo da tese que toma a capoeira enquanto uma estrutura social capaz de representar variados entendimentos sobre a vida social, se apresentado historicamente com capacidade para transgredir vários códigos e normas da ordem nas suas lutas de proteção e preservação, tais transgressões não incorporaram até o presente momento a proteção e a preservação dos direitos da mulher." (Janja)

De fato, quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir já percebeu que a capoeira, arma de libertação, muitas vezes entra em contradição consigo mesma, a partir de certas posturas autoritárias, até abusivas, que tentam negar às mulheres o que lhes é de direito e merecimento. Por que isso acontece?

Certamente não sou a pessoa mais indicada para responder, mas resolvi dar meu pitaco. E, para começar, creio que devemos pensar em como temos lidado com a tradição. Sim, pois não é difícil perceber que ela é muitas vezes usada mais como instrumento de reprodução e perpetuação de relações de poder do que qualquer outra coisa. Aí, fica a pergunta: até que ponto ela pode e deve ser reinterpretada e resignificada?

Tome-se o exemplo do candomblé, religião professada por muitos capoeiristas. Historicamente, as mulheres têm nele um lugar de destaque, senão de liderança máxima, o que aliás não é comum entre as religiões de um modo geral. Apesar de terem brotado da mesma raiz, estranhamente, a capoeira se transformou em um feudo masculino.

No passado, as mulheres capoeiristas
tinham que se masculinizar para ganhar espaço e respeito na capoeira. Basta ver seus apelidos: Maria Doze Homens, Rosa Palmeirão, Claudivina Pau-de-Barraca, Dora das Sete Portas, Maria Homem e Júlia Fogareira. Mulheres fortes, sem dúvida, que deixaram seus nomes na história. Mas será que ainda hoje as mulheres terão que conquistar seu espaço "na porrada"?

É triste costatar que em pleno século XXI as mulheres continuam se deparando com diversas formas de violência também no interior da capoeira.
Há depoimentos de várias formas de assédio, passando pela agressão sexual e psicológica. E o que é pior, muitas vezes partindo dos próprios mestres, dos responsáveis pelos grupos ou de alunos mais experientes.

Por outro lado, é preciso reconhecer que há muitas maneiras mais sutis de opressão. As letras de músicas, por exemplo. No Nzinga, chegamos a mudar letras "tradicionais" e não posso negar que dá uma ponta de orgulho em ver que cada vez mais grupos soltam a voz para dizer que a capoeira "tem homem e tem mulher". Tampouco cantamos canções que reforçam estereótipos femininos negativos.

Enfim, a questão é complexa e merece nossa reflexão. E ação. Que as mulheres possam assumir posições de liderança em seus grupos por seu próprio valor e merecimento, como qualquer pessoa, "pegar o gunga" e ajudar a capoeira a cumprir, mais uma vez, sua vocação revolucionária e libertadora.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Frede Abreu

Uma das coisas que me motivaram a começar este blog é a vontade de ajudar a divulgar informações que acho interessantes, valiosas.

Tenho um bocado de material em casa: livros, artigos, matérias de revistas, entrevistas, etc.. São coisas que a gente vai juntando aqui e acolá, recebe de alguém, acha na internet, compra.
Então, vou usar este espaço para continuar garimpando nesse acervo. Não é nada de mais, mas pode ser útil para alguém.

Hoje escolhi falar de dois livros do pesquisador da capoeira Frede Abreu: "O Barracão do mestre Waldemar" e "Capoeiras: Bahia, século XIX". O primeiro é mais antigo, de 2003. Eu já tinha visto e até folheado um exemplar de um amigo meu, o Swai, mas só tempos depois vim a comprar. Comprei da mão do Mestre Lua Rasta, aqui mesmo em Brasília. Aliás, o mestre trouxe uma verdadeira quitanda da capoeira pra cá, com atabaques, berimbaus, livros, dvds, cds e mais.



Este Barracão é uma obra de fôlego. Bem pesquisado, escrito e ilustrado, é presença obrigatória em qualquer biblioteca sobre capoeira. O livro é um passeio pelas estórias da nata da capoeiragem baiana na primeira metade do séc. XX: além do próprio Waldemar da Liberdade, figuras como Nagé, Traíra, Caiçara, Maré, Cabelo Bom, Bimba, Noronha, Pastinha e Canjiquinha. Tem cada história de prender a gente na leitura. É começar e não querer mais parar. Uma verdadeira aula.

O segundo livro, Capoeiras, encomendei diretamente com o Frede, que me mandou o exemplar lá de Salvador. Esse, de 2005, veio para ajudar a preencher uma lacuna na historiografia sobre a capoeiragem baiana. Fruto de uma pesquisa invejável, esse trabalho esclarece muita coisa do período e, onde não é possível encontrar evidências, lança hipóteses convincentes. Imperdível.



É claro que elogiar o trabalho do Frede é chover no molhado. Todos conhecem sua competência. Ainda assim, queria compartilhar esses pensamentos com vocês.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Filosofia banto

Na década de 30 do século passado, um missionário belga chamado Placide Tempels viveu 29 anos em missão no então Congo Belga, hoje a República Democrática do Congo.

Em contato com as populações residentes na bacia do rio Congo, ele escreveu "A filosofia banto" (La philosophie bantoue), publicado em 1949. Este livro é tão influente quanto polêmico.

O propósito de Tempels era entender o modo que esses povos pensavam e viam o mundo, principalmente sob o ponto de vista religioso. No entanto, muitos criticam o fato de que ele fez uma generalização, para todos os povos banto, de uma experiência restrita. Além disso, seu ponto de vista sempre foi o de um evangelizador cristão, com todos os preconceitos que isso significa.

Seja como for, feitas as devidas ressalvas, seu trabalho ainda é considerado fundamental para quem se interessa por filosofia africana.

Nei Lopes, em sua "Enciclopédia brasileira da diáspora africana", faz um resumo dos princípios básicos do livro:

1) o fundamento do universo e seu valor supremo é a vida e a força que a impulsiona e dela emana;

2) todos os seres devem ser entendidos como forças e não como entidades estáticas;

3) em qualquer circunstância, deve-se sempre procurar acrescentar força à vida e ao universo e evitar sua diminuição;

4) ocorrendo essa diminuição, deve-se buscar a intervenção dos adivinhos e ritualistas, porque eles conhecem as palavras que reforçam a vida;

5) a morte é um estado de diminuição do ser; mas os descendentes vivos de um defunto podem, através de oferendas, transmitir a ele ainda um pouco de vida: o morto sem descendentes está condenado a uma morte definitiva;

6) um indivíduo se define por seu nome: ele é o seu nome; e este é algo exclusivo e íntimo, indicativo de sua individualidade dentro do grupo a que pertence; e

7) todo ser humano constitui um elo vivo na cadeia das forças vitais: um elo ativo e passivo, ligado em cima aos elos de sua linhagem ascendente e sustentando, abaixo de si, a linhagem de sua descendência.

Essa energia vital é o que costumamos chamar de Ngunzo.

Através dela, todos os seres, vivos ou mortos, se inter-relacionam e influenciam. Há ações de forças que tendem a diminuir a energia vital e outras que a aumentam, fazendo interagir harmonicamente todas as forças que Nzambi criou e colocou à disposição do homem.

É isso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Convoi funèbre d'un fils de roi nègre



Debret, Jean-Baptiste. "Voyage pittoresque et historique ao Brésil". 1839.

Percebam, mais à direita na imagem, o camarada dando um aú, ou partindo pra uma bananeira...

Na cosmologia dos bacongo1, o mundo dos espíritos, ku mpemba na língua quiconga, é um mundo invertido, onde se acumulam todas as potencialidades culturais, morais, físicas e espirituais. Ele se liga ao mundo físico por meio da kalunga, a linha sobre a qual se assentam os fundamentos da sociedade: a força da renovação, representada pelos jovens, a capacidade positiva das lideranças, e a experiência acumulada2.

Tais fundamentos sociais e filosóficos estão com certeza presentes na maioria dos grupos praticantes da capoeira angola, assim como em diversas outras manifestações ancoradas em raízes culturais tradicionais africanas.

Os movimentos de ponta-cabeça são uma característica da capoeira angola que logo sobressai quando a comparamos a outras culturas corporais, sejam elas artes marciais, danças ou mesmo terapias, existentes no mundo todo. De tão peculiares, seus variados aús, pontes, piões e bananeiras parecem revelar mais do que simples movimentos de transição entre duas posições em pé.

Nesse aspecto, a capoeira angola só é comparável ao hip-hop e, evidentemente, à capoeira regional. Mas a observação cuidadosa mostra que para além de uma motivação intensamente acrobática, angoleiros e angoleiras na verdade almejam um outro olhar sobre o mundo quando estão de cabeça para baixo.

Na capoeira angola, tanto o aú quanto a bananeira são definidos pela persistência do olhar sobre o outro, pela naturalidade do “andar” sobre as mãos, e por um cuidado em estar “fechado”, com as pernas flexionadas e prontas a defender o resto do corpo. Certamente é intrigante a pergunta sobre a origem dessa postura mais do que puramente estética.

Já se supôs ser essa uma reminiscência de um ritual iniciático, ou o resultado do objetivo de desenvolver uma técnica que demonstrasse a superioridade do negro sobre o branco, até mesmo símbolo do desejo de quebrar uma ordem social opressora, de conquistar a liberdade3. Talvez sim, mas é igualmente possível que haja uma razão mais profunda, ligada a valores religiosos herdados dos africanos.

Nesse sentido, parece mais do que simples acaso que os bacongo falem em na wu, literalmente um “movimento giratório”, quando descrevem o nosso aú4. A semelhança fonética é surpreendente, ainda que, de acordo com o dicionário Houaiss, a palavra brasileira tenha “origem obscura”. Tudo isso leva à indagação: Seria esse movimento, assim como plantar bananeira, uma evocação do mundo espiritual? Ou ainda, um legado da visão de mundo dos bantos da África Central ao Brasil?5

1 Refiro-me aqui aos povos do antigo Reino do Congo, que remonta pelo menos ao séc. XIII, e também aos de sua zona de influência cultural imediata, que hoje alcançaria, principalmente, os territórios da República Democrática do Congo (RDC), de Angola, da República do Congo (Brazzaville) e do Gabão.

2 Ver Fu-Kiau (2001).

3 Ver Lewis (1992).

4 Ver Thompson, prefácio, em Lewis (1992).

5 Nesse caso, pouco importa que tais laços encontrem ou não uma elaboração verbal nesses termos por parte de praticantes da capoeira angola, mas sim que façam parte de seu patrimônio tradicional herdado e cultivado.


NOTA - Esse verbete faz parte de um possível futuro "Dicionário de Capoeira Angola". Quem sabe...?

sábado, 4 de outubro de 2008

Meu caminho

Para Mestra Janja

Hoje eu faço o meu caminho

O caminho que me faz

Quantos anos na estrada?

Os meus mestre sempre mais!


Eh, foi na volta do mundo, colega véi

Na volta que o mundo dá

Tava andando sem meu rumo

Ai, ai, ai, Não podia nem pará.


Encontrei a capoeira

Oh meu Deus, Foi aqui neste lugar

Hoje eu canto pra Pastinha

Hoje eu sei a quem louvá.


Tantas lutas, tanta dor

Nunca deixo de lembrá

Quem aceita a injustiça, oi ai ai

Se perdeu sem se achá

Na roda da capoeira...

Na roda da capoeira!

Essa luta eu vou lutá.


Meu irmão, meu camarada

Ouça bem o meu cantá

A cobra mordeu o rabo

Seu veneno é de matá.


Se não sei pra onde eu vou

Ah, eu nunca chego lá

Quando esqueço de onde vim

O que eu fiz foi me enganá.


Salve mameto Kalunga

E também o Pai Lemba!


Camaradinho....

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Tempo


"Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo..."
Caetano Veloso, em "Oração ao tempo"


Quanto tempo é necessário para se tornar um mestre de capoeira angola?
Quanto tempo deve durar uma roda de capoeira?
E um golpe?!
Tempo é um dos inquices, uma das divindidades, do panteão do candomblé de angola.
Também é chamado de Kitembo.
Acredito que não tenha correspondente nos cultos das vertentes iorubá e jeje.
Pelo que aprendi, rege os ritmos e ciclos da vida: as estações do ano, o clima, as colheitas, a reprodução, os ventos e tempestades, o dia e a noite, a lua e o sol, o envelhecimento, a morte.
Pedro Abib, aluno do Mestre João Pequeno, fala um pouco sobre a noção africana de tempo em seu livro "Capoeira Angola: cultura popular e o jogo dos saberes na roda".
A cultura ocidental tem um apego imenso ao presente, enquanto que na perspectiva africana o passado não morre. Vive no presente e se projeta para o futuro, como uma luz sobre o caminho.
Ou seja, o tempo não é uma linha reta e sim uma espiral, um movimento circular. O hoje está prenhe de ontem, de modo que o que se passou renasce a todo momento.
Essa circularidade do tempo tem representação, por exemplo, no cosmograma kongo, na imagem da serpente que morde a própria cauda, e na idéia de sankofa.
Na capoeira angola, não seria a constante lembrança das "voltas que o mundo dá" parte dessa visão?
Sem falar em vários outros elementos em que a referência circular é fundamental, a começar da própria roda!
Aliás, vale lembrar que na África, o berimbau também serve para promover a comunicação com os mortos, os ancestrais. Será daí que vem a sua incrível força?
Seja como for, guardo comigo a lição de que a contagem mecânica, puramente cronológica do tempo é uma simplificação. Talvez devêssemos falar em tempos, no plural.
Voltando ao começo deste post, como decretar o tempo, quiçá em meses ou anos, necessário para alguém se tornar um mestre?
Ninguém diz, mas mesmo assim sabemos que há um tempo certo, que etapas devem ser cumpridas, que os degraus não podem ser maiores do que as pernas.
Enfim, que Kitembo é soberano.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

Cordel


A capoeira e o cordel estão frequentemente juntos, parecendo ser a capoeira cada vez mais uma inspiração para essa literatura popular.
Outro dia, por exemplo, o Esquilo, um visitante, me presenteou com o livreto "Manduca da Praia - O lendário capoeira do Rio Antigo", de Victor Alvim Itahim Garcia, apelido Lobisomem. A capa é essa aqui à direita. É obra recente, de 2007, com patrocínio do programa Capoeira Viva.




Outro cordel com temática capoeirística foi autorado por André Luiz Lacé Lopes e se chama "Capoeiragem no Rio de Janeiro e no Mundo" (capa à esquerda). Editado em 2004, é obra abrangente na abordagem, indo da capoeiragem carioca à capoeira angola, com direito a citação ao Grupo Nzinga.







Os cordéis também muitas vezes foram fontes diretas para ladainhas e corridos.
O caso mais conhecido deve ser o da "Peleja de Manoel Riachão com o Diabo", de Leandro Gomes de Barros, que surgiu no final do século XIX. Trechos dele já foram cantados, entre outros, pelo Mestre Waldemar e pelo Mestre Moraes. A capa aqui à esquerda é de uma edição que me foi enviada pelo amigo Alan Boccato.





É fato conhecido que Mestre Waldemar da Liberdade também bebeu (ou comeu...) em outro cordel, o "A vida de Pedro Cem", do mesmo Leandro Gomes de Barros, cuja capa reproduzo ao lado.
E parece que em outro ainda, talvez menos conhecido: "A história do Valente Vilela", cujo autor seria João Martins de Athayde, que transcrevo aqui na íntegra.
É longo, mas imagino que valha a pena...





A história do Valente Vilela

Meu povo, preste atenção
Ao que agora eu vou contá
De um home muito valente
Que morava num lugá
E até o próprio Gunvêrno
Tinha medo de o cercá.

Vilela era natural
Do sertão pernambucano,
E ele, desde o princípio
Que tinha o gênio tirano:
Comete o primeiro crime
Com a idade de dez ano.

Com doze ano de idade,
numa véspa de São João,
Vilela mais o seu mano
Tivero uma alteração;
Só por causa de um cachimbo,
Vilela mata o irmão.

Com quinze ano de idade,
Passando os três ao depois,
Vilela monta a cavalo,
Vai ao campo atrás duns bois;
Encontrou quatro rapaz;
Atirou num, matou dois.

Preparou-se pra caçá
Num domingo bem cedim,
Carregou a espingarda
Para matá passarim,
E na berada de um poço
Mata o fio de um padrim.

Casou com dezoito ano.
Com seis meze de casado,
Tando, um dia, trabaiando
Na derruba de um roçado,
Devido à queda de um pau
Vilela mata o cunhado.

O Agente de Puliça
Tratou de o persegui,
Sempre botando piquete
Mas Vilela sem cai,
Porque sabia de tudo
Pois era fio dali.

O Agente de Puliça,
Vendo que não o prendia,
Escreveu pra Capital,
Vê o que o Chefe fazia,
E exigindo grande tropa
De Linha e Cavalaria.

Nisso, o Chefe de Puliça
Mandou-lhe trinta soldado,
Agraduou um Tenente
Com ordes de Delegado:
Morreu, não escapou um
Para trazê-lhe o recado.

Ele tornou a mandá
Trinta e um homem iscuído,
Agraduou um Tenente
Este era mais destemido;
Morrêro da mesma forma
Que os outros tinha morrido.

Então, depois de seis mês,
Mandou outro contingente
Que tinha quarenta praça
E um cabo muito valente:
Escapou o corneta-mó
Pra se acabá de doente.

Este, chegando no Corpo,
Espaiou na Companhia,
Que era asnêra mandá tropa
Que o homem ninguém prendia,
Que a força levava tiro
Sem sabê de onde saía.

Fala o Alfere Negreiro
Ao Fiscal do Bataião:
- Basta o Comandante dá-me
Um mandado de prisão,
Eu mostro se esse Vilela
Visita a cadeia ou não!

Disse o Comandante a ele:
- Alferes, a coisa é medonha!
Você, cumo se oferece,
Acho bom que se diponha:
Você vai, não trás o home,
Chega aqui, me faz vergonha.

O Alfere disse a ele:
- Eu sei porque me ofereço;
Deixe eu escuiê a escolta
Dos soldados que eu conheço:
Se eu não trouxer preso ou morto,
Nunca mais que eu apareço!

Tendo o mandado de orde,
Os soldados se arrumáro;
Na manhã do outro dia
Se despidiro e marcháro;
Fora com muito cuidado,
Com quinze dia chegáro.

O Alfere entrou no Distrito
Às oito horas do dia:
Escreveu pro Delegado
Que lhe mandasse um bom guia,
Que lhe mostrasse o Vilela,
Que ele ali nada sabia.

O Delegado, em pessoa,
Saiu correndo até lá:
- Seu Alfere, eu vim aqui
Somente lhe aconseiá...
Si vem prender o Vilela,
Eu sou de acordo é voltá!

O Alfere respondeu:
- O sinhô logo não vê
Que esse pedaço de home
Que Deus consentiu nascê
Não morre antes de tempo,
Nem corre sem vê de quê?

Sai o Alfere vagando
Pelos campos do sertão...
Adiante encontra um rapaz
E dá-lhe voz de prisão:
- Você me mostra o Vilela,
Quer você queira, quer não!

Lhe disse o rapaz chorando:
- Que é que eu hei de fazê?
Eu vou mostrar o Vilela
Mas na certeza de que:
Tropa que cerca o Vilela
O resultado é morre...

- Siga, siga, rapazim,
Quando avistá a fazenda,
Chegue pra perto de mim,
Fale baixo que eu compreenda
Que é pr’eu botá-lhe num canto
Onde bala não lhe ofenda.

Pelas dez hora da noite
Diz, de repente, o rapaz:
- A casa do homem é aquela
Pregada àqueles currais,
Junto daqueles cercado,
Acostada por detrás.

Ai o rapaz foi solto
E a toda pressa voltou,
Correndo de serra abaixo,
Sem medo dos tombadô;
Parece que criou pena,
Bateu as asa, voou...

Saiu de ponta de pé
Tudo quanto era soldado...
Vilela, como ispriente,
Na sua rede deitado.
Acorda e diz à mulhé:
- Minha véia, eu tou cercado!

Fala o Alfere na porta:
- Vilela, tem paciença!
Vilela, me entrega as arma,
Eu não quero é violença...
Trata de compô a casa
Pr’eu fazê a diligença!

- Do tamanho que é a cozinha
Também pode sê a sala;
Da grossura do revólve
Também pode ser a bala...
Óio e não vejo ninguém,
Seu Alfere!Quem diabo é que me fala?

- Vilela, me abra a porta,
Deixe de machaveliça,
Conheça que tá cercado
Pela tropa da Puliça!
No Bataião me acompanha
Oficial de Justiça.

- Seu Alfere Delegado,
Eu não engano ninguém!
Muito lhe agradecerei
Não me enganando também...
Queira dizê, não me engane,
Seu Alfere!Quantas praças é que vem?

- Vilela, eu não te engano;
Trago cento e oitenta praça,
Negro nascido em baruio,
Criado em mêi de desgraça...
Pra te mandá pra outro mundo
Nem eu nem ninguém se embraça!


- Com ceito e oitenta praça
Brigo em pé, brigo de cóca...
As balas estralando em mim
E mio abrindo em pipoca...
E eu dou meu pescoço à forca,
Seu Alfere,Si me achá uma barroca!

- Si qué sê preso com honra,
Se renda, não faça ação!
Vim lhe buscá preso ou morto,
Não quero escutá sermão...
Ou você me abre a porta
Ou vai vê ela no chão!

- Eu só fazendo consigo
C’umo c’o cometa-mó...
O mió que o sinhô faz
Ê ganhá os mororó!
Mas si é de quebrá-me a porta,
Seu Alfere,Eu vou abri que é mió...

- Vilela, eu tenho comido
Toicinho com mais cabelo,
Mas o diabo é quem queria
Está hoje no seu pêlo...
Salte pro campo da honra,
Deixe, ao meno, eu conhecê-lo!

- Seu Alfere Delegado,
Largue de tanto zum-zum,
Que o homem que mata cem
Pode interar cento e um...
Eu hoje inda não comi,
Seu Alfere,Com você quebro o jejum!

- Vilela, você se engana,
Eu venho atrás de teu nome...
Tu és a trigue da terra,
Vilela, mas não me come!
Devido à corage, não,
Vilela, eu também sou home...

- Seu Alfere Delegado,
Vá procurar seu camim,
Vá criá sua famia,
Deixe eu criá meus fiím
Porque, si eu saí lá fora,
Seu Alfere,Sei que lhe encontro sozim!

- Vilela, eu tiro-te a moda
De matá pra estruí...
Ainda mêrmo eu sozim,
Não te deixo escapuli!
Si não abre a porta, diga
Que é pra vê ela caí.

- Seu Alfere Delegado,
Se mostra sê animoso...
Si não fô lambança sua,
Já vi home corajoso!
Mas botá-me a porta abaixo, Seu Alfere
Isto é que eu acho custoso...

- Vilela, tem paciença,
Vigie que eu lhe falo séro;
Desta feita você segue,
(Isto é quero porque quero)
Ou em corda pra cadeia
Ou em rede pro cimitéro!

- Seu Delegado, eu carrego
Comigo uma opinião:
Boi solto se lambe todo
Eu não me entrego à prisão!
Quero mêrmo que se diga,
Seu Alfere,Morto sim, mas preso não!...

- Vilela, me abra a porta,
Você só tem é relaxo...
Si você não abre, diga,
Que é pr’eu botá ela abaixo!
No encruzá dos batente
Teu sangue desce em riacho...

- Seu Alfere Delegado,
Conheça que eu não lhe engano:
Si botá-me a porta abaixo,
De dentro espirra tutano!
Si eu batê mão ao cangaço,
Seu Alfere,Chove bala vinte ano!

- Vilela, não seja besta,
Você não me faz terrô...
Eu trago é tropa de linha
Do Monarca Imperadô!
Eu lhe levo preso ou morto,
Sem você eu lá não vou!

- Seu Alfere Delegado,
Esta razão me agradou:
Você diz que é muito home,
Si é por fome, eu também sou!
Previna o destacamento,
Seu Alfere,Se prepare que eu já vou...


Quando o Alfere escutou
Bolí lá dentro nuns trem,
Previne a rapaziada:
- Prepara que o home aí vem!
(rodou a casa, sozim
Não encontrou mais ninguém).

- Seu Alfere Delegado,
Sua canáia corrêro...
E o sinhô o que é que faz
Que não ganha os marmelêro?
Mêrmo aqui só canta um galo, Seu Alfere,
Que sou eu neste terrêro!

Estando o Alfere oiando,
Notou que a porta rangiu,
Mas o escuro era tanto
Que ele oiou porém não viu...
Quando o Vilela pulou,
Logo dois tiro partiu.

- Seu Alfere Delegado
Atira mais que um Majó!
Eu cuidei de atirá bom,
Mas ele atira mió...
Entrou um tiro no outro,Seu Alfere,
Que me pareceu um .....

- Vilela, que é que eu te disse?
O Alfere véio não correu...
Fez negaça, desgraçou-se!
Buliu c’os quarto, morreu!
Você inda tá renitente
Porque não sabe quem sou eu...

- Seu Alfere Delegado,
Cade a força que tinha?
Só o sinhô não correu!
Tanto soldado que vinha...
Quem chegou aqui por galo,Seu Alfere,
Vai voltá cumo galinha...

O Alfere pegou no rife,
Ficou o tempo tinindo:
Era o dedo amolegando
E o fumaceiro cobrindo,
Batendo as bala em Vilela,
Voltando pra trás zinindo...

- Seu Alfere Delegado,
Bote fora o cravinote!
Pensa o sinhô que me ofende
Isso é bala de badoque...
Hoje nem Jesus lhe livra,Seu Alfere,
Da ponta do meu estoque!

Deixáro as armas de fogo,
Cada qual o mais ligêro;
Pegáro-se esses dois home
Em luta pelo terrêro:
Os punhaes davam faísca
Que só forja de ferrêro!

- Seu Alfere Delegado,
Nós vamo à marge do rio,
Assolamo pau e pedra,
Parecemo dois navio:
Deixemo as arma de fogo,Seu Alfere,
Já tamo é no ferro frio!

Com duas horas de luta,
O Alfere não pressentiu,
lntropicou de repente
E num buraco caiu:
Vilela saltou em cima
E, de malvado, se riu.

- Logo no primeiro salto
Perdeste o pé da chinela...
Que é do sinhô agora
Com a minha mão na guéla,
Com meu joêio em seus peito,Seu Alferes,
E meu punhal na costela?

Vilela, não é vantage,
Matá um home à treição:
Você, por pegá-me agora,
Devido a um intropicão,
Vai me matá cumo home,
Porém por covarde, não!

- Seu Alfere Delegado,
Bem cancei de lhe dizê...
Bem que eu tava descançando,
Viéro me aborrecê...
Hoje aqui só Deus lhe acode, Seu Alfere,
Se prepare pra morrê!

Disse o Alfere consigo:
Ó meu Deus tão poderoso,
Tende compaixão de mim,
Eu sou pai e sou esposo,
Livrai a mim de engulí
Este bocado amargoso.

Mas quando o Vilela tava
Com ele muito entretido,
Pensando que daí a pouco
Tivesse o Alfere morrido,
Saiu-lhe uma voz de parte:
- Não mate o home, marido!

- Saia-se daqui, mulhé,
Com o diabo de seus consêio!
Si o Alfere me matasse,
Você não achava feio...
Cumo eu tou matando ele,
Semvergonha,
Tu vem te metê no meio!

- Marido, não mate o home
Que ele nem lhe deu motivo...
Jesus foi tão judiado,
Sofreu, não foi vingativo.
Si és de matá o Alfere,
Me mate, deixe ele vivo!

Eu, quando ouvi as pisada,
Conheci que era você...
Certamente lá em casa
Não tem mais o que fazê!
Mêrmo em briga de dois home,
Descarada,Mulhé não tem que vim vê...

- Marido, eu nem nunca vi
Um gênio como esse teu...
Como é que tu quê matá
A quem nunca te ofendeu?
Si a tua tenção é esta,
Solte ele e mate eu!

- Não sei o que tem mulhé,
Que todas são cavilosa...
Para brigá c’os marido
São danada de teimosa!
Quando é pra fazê pedido, Cara lisa,
Tu fica toda dengosa...

- Marido, não mate o home
Que é casado e tem famia...
Você matando o Alfere,
Os inocente quem cria?
Veja que somo casado
Pode precisá-se um dia.

- Pois, então, diga ao Alfere
Que corra pelas estradas...
Sinão, ele sai daqui
Vendendo azeite às canada!
Diga que a minha mulhé, Seu Alfere,
Foi a sua adevogada!

Saiu o Alfere dali,
Tristonho e desconsolado
Porque se via sozim,
Sem sabê dos seus soldado!
Com o desgosto que teve,
Morreu no mato enforcado!...

Acaba o Vilela a briga
Também munto arrependido;
Saiu por detrás de casa,
Até dos fio escondido
Que nem mesmo a mulhé dele
Soube mais do seu marido...

- Mulhé, eu fiz seu pedido:
Não matei aquele hoine,
Mas me vou, de mato à dentro,
Me acaba de sede e fome,
Vou comê das fruita braba,
Porque quero,
Daquelas que os bruto come.

Sai o Vilela de casa,
Nos mato escói um canto,
E ninguém nunca pensava
Que ele vivesse tanto...
E, ao cabo de quarenta ano,
Morreu Vilela e foi Santo!

Alviça, meu povo todo,
Que a minha história acabou-se:
O Alfere foi valente
E, de valente, enforcou-se!
Mais valente foi Vilela:
Morreu, foi Santo e salvou-se!!!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pastinianas

O que é pra você ser seguidor do Mestre Pastinha?
Acho que vale a pergunta.
Afinal, não são poucas as pessoas que professam fazer parte de sua descendência capoeirística.
Certo, um aspecto é pertencer à linhagem, aprender com um mestre ou uma mestra que venha da escola dele.
No entanto, também imagino que ninguém vá discordar de que não basta vestir o famoso amarelo e preto para honrar a herança do Grande Mestre.
Todos sabemos que Vicente Ferreira Pastinha foi um grande pensador da capoeira, que buscou ir além do aspecto puramente físico, preocupando-se com a formação integral do capoeirista.
Isso se comprova no que sabemos sobre a maneira como ele jogava capoeira e também nos poucos e preciosos escritos que nos deixou, às vezes não mais do que pequenas frases, mas cheias de sabedoria, umas mais, outras menos conhecidas.
Mestre Poloca costuma enfatizar um lado desse pensamento “pastiniano”, tantas vezes invocado e cantado por aí, mas nem sempre praticado, na roda e na vida.
Pensem em coisas muito simples - como a cortesia, a amorosidade, o respeito ao outro, a calma, o tempo como fundamento do aprendizado, a necessidade de regras - , mas que fazem toda a diferença.
Para comprovar, basta ir à "fonte".
Então, vejam aí algumas citações extraídas dos "Manuscritos do Mestre Pastinha", da conhecida edição com comentários organizada pelo Mestre Decânio, discípulo do Mestre Bimba.

Com a palavra, o velho Vicente:

“...é minha fé de oficio, capoeirista sou; tive bom mestre, tenho provado, só dou valor a este, porque tem tudo que é de bom...”

“Eu ti digo, comecei a educar-me nesse jogo, por força de vontade, e não foi com trez meses, ou com menos, porque o tempo é muito pouco, poristo é que eu pinoteio, salto, tenho agilidade, tenho manhas, jogo no corpo, dibre para me livra do agressor, sirvo-me dos pés, da cabeça,...”

“A capoeira é a segunda luta? Porque a primeira é a dos caboclos, e os africanos juntou-se com a dança, partes do batuque e parte do candombrê, procuraram sua modalidade.”

“Os mestre não pode ensinar com discortez nem de modo àgresivo, não.”

“O bom capoeirista nunca se exalta procura sempre estar calmo para poder reflitir com percisão e acerto; não discute com seus camaradas ou alunos, não toma o jogo sem ser sua vez; para não aborrecer os companheiros e dai surgir uma rixa; ensinar aos seus alunos -sem procurar fazer exibição de modo agresivo nem apresentar-se de modo discortez...”

“A luta provida pelo puro egoismo, é como a luz da razão; é violenta, feroz e brutal.”

“Infelizmente grande parte dos nossos capoeirista tem conhecimento muito incompleto das regras da capoeira, pois é o controle do jogo que protege aqueles que o praticam para que não discambe exesso do vale tudo,...”

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Duas músicas

O Grupo Nzinga tem exercitado o diálogo da capoeira angola com o candomblé e a religião afro-brasileira em geral. Um dos frutos dessa troca são novas canções incorporadas ao repertório do grupo.
São músicas tradicionais do candomblé de angola, cantadas em linguagem africana, provavelmente de base quimbundo e quicongo, com partes em português.
Eu selecionei duas delas, acompanhadas de uma possível tradução, que tirei do livro "Jamberesu - Cantigas de Angola", de Mario Cesar Barcellos, além de um breve comentário.

Primeira música:

"Oiá, Oiá, Oiá ê...
Oiá Matamba di kakurukaju zinguê
Oiá, Oiá ,Oiá ê
Oiá Matamba di kakurukaju, zinguê ô..."

Tradução:

"Governa, governa, governa, sim,
A velha Matamba governa desde muito tempo.
Governa, governa, governa, sim,
A velha Matamba governa desde cedo."

-> Comentário: O inquice Matamba das religiões banto no Brasil seria correspondente ao orixá Iansã dos cultos de origem iorubá. Além disso, tenho pra mim que ela traz em si a rainha guerreira Nzinga Mbandi, antiga soberana de Matamba, na atual Angola, que se tornou um dos ancestrais mais cultuados pelos descendentes dos povos banto no Brasil.

Segunda música:

"Nkosi biole sibiolala
Nkosi biole sibiolala
Nkosi biole sibiolala, eme kajamungongo,
Nkosi biole sibiolala
Eme kajamungongo...
Nkosi biole sibiolala."

Tradução:

"O Guerreiro dá risadas quando vence
O Guerreiro dá risadas quando vence
O Guerreiro dá risadas quando vence, meu protetor,
O Guerreiro dá risadas quando vence
Meu protetor...
O Guerreiro dá risadas quando vence."

-> Comentário: Nkosi, ou Rogi Mukumbe, seria o equivalente ao nagô Ogun.

domingo, 21 de setembro de 2008

Sabedoria

Frases ouvidas em um treino do Mestre Poloca . . .


“Golpe é o mais fácil na capoeira”


“Não vou ensinar nada novo, nada diferente do que vocês já sabem”


“Tudo o que vocês precisam é desenvolver a noção de tempo e espaço”


“Joguem devagar e olhando, senão é melhor nem jogar”


“Joguem limpo, sem encostar, sem travar, e nada de bote”

“A capoeira vai muito além do corpo”

“Mais do que simplesmente bons capoeiristas, queremos formar melhores pessoas”.

Um pouco de filosofia

O que significa pertencer a um grupo de capoeira angola? Essa pergunta aparentemente trivial comporta muitas respostas. Em primeiro lugar, claro, estar frequentando as atividades promovidas pelo grupo, participando e contribuindo. Nessa leitura, aliás, o pertencimento não está obrigatoriamente vinculado ao treinar, pois há outras formas de agregar à comunidade.
Seja como for, uma coisa é certa: pertencer não é o mesmo estar frequentando um espaço de trocas meramente comerciais, como tantos que estão em oferta por aí, ou de busca de uma realização puramente individual.

Pelo que entendo, os grupos de capoeira angola devem se definir como organizações culturais e educativas em sentido amplo. Não como academias, espaços esses que privilegiam certos aspectos estéticos e funcionais do corpo, a partir dos paradigmas da educação física.
Estamos falando do pertencimento a uma tradição e a uma forma tradicional de ver as coisas.

Até onde eu posso falar, a capoeira angola que o Grupo Nzinga se propõe a praticar é a da “escola” do Mestre Pastinha. Isso significa várias coisas fundamentais.
Do ponto de vista filosófico, estamos assentados em um tripé: ancestralidade, oralidade e comunidade. Estes são conceitos que vêm da tradição.

Ancestralidade não tem nada a ver com descendência racial e/ou étnica. No nosso caso, refere-se em primeiro lugar à presença e valorização da memória do Mestre Pastinha. Ele é a matriz de uma descendência cujas reflexões e práticas definem seus próprios códigos de pertencimento e resistência cultural, como diz a Mestra Janja.
Esse fundameto ancestral também diz respeito aos vínculos originários entre a capoeira e a religião afro-brasileira, no sentido de um pertencimento a um tronco comum e perene, não como atividade. Ou seja, nada obriga aos praticantes da capoeira a iniciação religiosa. Porém, é mais do que presente uma africanidade pautada no convívio com o sagrado, o sobrenatural, o mistério, a mandinga. É a partir daí que se estrutura a identidade angoleira.

Por comunidade entende-se o grupo amplo formado por aqueles e aquelas que, podendo estar distribuídos em cidades, países e culturas distintas e até distantes, partilham os mesmos códigos de pertencimento e símbolos de identidade. Isto por sua vez implica atitudes e condutas, com conteúdo ético e moral próprio, cuja principal consequência é a consciência da responsabilidade por cuidar da própria fonte da tradição. Isso une todos os angoleiros e angoleiras.

Finalmente, tem-se a oralidade como principal via de repasse do conhecimento. Mestra Janja ensina que essa relação complexa pode variar nas estruturas individuais de relacionamento (mestre-discípulo) e/ou coletivas de envolvimento (mestre-discípulos e estes entre si), correspondendo em qualquer caso à valorização de uma técnica de educação tradicional africana. Na prática, estamos falando de coisas como tempo e convivência. De saber calar, ouvir e falar. De ensinar pelo exemplo. De respeito a quem é mais velha e mais velho. De uma lógica que desafia a linearidade e promove a circularidade.

Bem, o assunto é amplo e profundo, como a própria capoeira angola. Talvez até por isso Mestre Pastinha tenha dito que "seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista".
De qualquer jeito, estou convencido de que exercício constante de seus fundamentos é uma contribuição decisiva não apenas para o aprimoramento individual de cada um de nós, mas, sobretudo, para o processo de construção de uma forma alternativa de agir socialmente.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Reinos da África Central - sec. XV




Sabedoria kongo e capoeira angola

Dando continuidade ao post anterior, compartilho com vocês alguns provérbios desses povos banto da região do antigo Reino do Kongo.
Esses que selecionei tratam do tema comunidade. Foram tirados do livro "African Cosmology of the Bantu-Kongo: principles of life & living", de Kimbwandende Kia Bunseki Fu-Kiau.
Penso que eles podem nos ajudar a refletir sobre nossas vivências de grupo na capoeira angola, no que diz respeito a aspectos como o papel da hierarquia, a religiosidade, a tradição, o cuidar do outro, o pertencimento, a paciência para aprender e a aceitação consciente dos fundamentos de sua comunidade.

Bom proveito:

"A comunidade já existia antes de você"

"A liderança da comunidade previne problemas e conflitos em seu interior"

"Se você conhece a comunidade, conhece Deus"

"Deus existe na comunidade"

"Me diga os princípios antigos para que possa compreender os novos"

"Dentro da comunidade todos têm o direito de ensinar e serem ensinados"

"A comunidade é um canal: as pessoas vão, as pessoas vêm"

"Não procure o centro das ondas sociais, se você não pertence ao interior da comunidade e seu sistema"

"Coma, beba, e então durma, pois você ignora como a aldeia foi construída"

Herança kongo

Kongo foi um grande império da África Central, cobrindo a área onde hoje estão a República Democrática do Congo, o Congo-Brazzaville, Angola e Gabão.
Ali habitavam povos tais como os bakongo, os luba, os bemba, os lunda, os umbundo e os ovimbundo, dentre outros.
No geral, pode-se afirmar que esses povos compartilhavam não só uma jurisdição política, como membros ou tributários do Reino do Kongo, mas principalmente uma visão de mundo de tronco comum. E de além-mundo, vale destacar.
Durante muitos anos, um grande número de pessoas desses povos foi trazido para o Brasil, partindo de portos africanos como Luanda, Benguela e Pinda.
Dessa forma, como não poderia deixar de ser, herdamos deles diversas manifestações culturais, artísticas e espirituais.
Entre elas, provavelmente está a capoeira angola, que terá nos chegado em semente, na forma de danças e lutas rituais, tais como o ngolo, a dança da zebra.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Provérbio iorubá

"Por mais longe que o rio flua, ele nunca esquece sua fonte"

Contexto 3

Não tenho conhecimento de trabalhos regulares de capoeira angola em Brasília nos dez anos que se seguiram. Mas é claro que isso pode ser só por desconhecimento meu. Uma vez me falaram de um grupo sedidado em uma das chamadas cidades-satélite, mas não consegui confirmar a informação.
Em 1998, se não me engano, um aluno do Mestre Goiano, de Goiânia, o Ubiranei, sul-matogrossense de apelido Baiano, começou um trabalho na UnB. Eu mesmo, que acabara de me mudar para a cidade, treinei com o grupo por quase um ano. Pelo que me recordo, o Malungos (esse era o nome do grupo) se dissolveu uns dois anos depois. Quando isso aconteceu, por sinal, já tínhamos começado o trabalho do Nzinga DF.
Desde então, a capoeira angola tem aos poucos se firmado em terras candangas. Nesse processo, foi importante a chegada da maranhense Mestra Elma, aluna de Mestre Pato, que deu seguimento por aqui ao Grupo Nzambi, nascido em Porto Alegre.
Como reflexo desse movimento, e também do crescente interesse de alguns grupos de capoeira regional, diversos mestres e mestras estiveram na capital nos últimos dez anos. De cabeça, posso citar Mestra Janja, Mestra Paulinha e Mestre Poloca, do Grupo Nzinga, em vários eventos que promovemos. Nosso grupo também promoveu a vinda de Mestre Cobra Mansa e de Mestre Valmir, da Fundação Internacional de Capoeira Angola - FICA.
Além desses, vale destacar as presenças de: Mestre Ananias, Mestre Virgílio, Mestre Boca Rica, Mestre Jogo de Dentro, Mestre Pato, Mestre Moraes, Mestre Angolinha, Mestre Jurandir, Mestre Lua Rasta, Mestre Cláudio de Feira de Santana, Mestre Sapo de Olinda, Mestre Roxinho e Mestre Goiano.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Contexto 2


A capoeira regional tem uma tradição consolidada em Brasília. Alunos do Mestre Bimba, como o Mestre Onça-Tigre e o Mestre Pombo de Ouro, ajudaram a fundá-la e difundi-la, formando diversos discípulos, e hoje são inúmeros os grupos e praticantes da modalidade.
Por outro lado, não se tem notícia de uma linhagem propriamente de capoeira angola com antiguidade comparável.
Dito isso, um evento que merece registro é o "Festival Praia Verde", realizado em outubro de 1986. Contando com a presença de diversos mestres importantes da capoeira angola baiana, tais como Mestre João Pequeno (foto), Mestre Boca Rica, Mestre Curió, Mestre Moraes e Mestre Cobra Mansa, esse encontro foi uma espécie de apresentação ao público local do então (re)emergente movimento angoleiro de Salvador (Vejam as imagens em http://br.youtube.com/watch?v=x4Q9hxRW8H8).
Na ocasião, pelo que se conta, constatou-se que Brasília não contava com seguidores característicos de qualquer das linhagens mais conhecidas da capoeira angola.

Continua...

Contexto

Não sou historiador e sim apenas um interessado, mas acho que vale dar uma olhada em algumas passagens da história da capoeira angola em Brasília, capital do Brasil.
Começando por onde mais sei, digo logo que o Grupo Nzinga de Capoeira Angola está há oito anos neste Distrito Federal. Até onde se sabe, é o mais antigo grupo de capoeira angola em atividade na cidade.
Mas é claro que não é a mais antiga referência à capoeira angola por essas bandas.
Brasília é uma cidade inventada. Brotou da mente de um grupo de pessoas, políticos e técnicos, como o presidente Juscelino Kubitschek e os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, e precisou ser construída do zero.
E vieram muitos capoeiristas entre os candangos que fizeram o trabalho pesado, bem como nas muitas levas de pessoas do país inteiro que desde antes da inauguração, em 1960, vieram tentar a vida por aqui. Inclusive angoleiros, segundo a tradição oral, como o Mestre Gato, um baiano muito lembrado pelos mais velhos da comunidade capoeirística local.

Continua...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dai-me licença

Neste primeiro post, peço licença às mestras e mestres, de hoje e de sempre, para humildemente abrir essa roda. Sou um aprendiz.
O intuito deste blog é facilitar a comunicação, fazendo circular a informação e promovendo conexões de idéias e pessoas.
As opiniões pessoais são de minha responsabilidade, não correspondendo necessariamente a qualquer posição oficial do Grupo Nzinga.
Procurarei mantê-lo atualizado e espero que seja de algum jeito útil.
Um abraço!