Às leitoras e aos leitores...

O intuito deste blog é facilitar a comunicação, fazendo circular a informação e promovendo conexões de idéias e pessoas que se interessam pela capoeira angola.
As opiniões são pessoais e, portanto, de minha inteira responsabilidade, não correspondendo necessariamente a qualquer posição oficial do Grupo Nzinga.
Peço licença às mestras e mestres, de hoje e de sempre, para humildemente participar nessa roda. Sou um aprendiz. Procurarei mantê-lo atualizado e espero que seja de algum jeito útil.
Um abraço!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Remédios de Aruanda

Ai, ai, ai ai
Quando eu cheguei de Aruanda
Trouxe muitos remédios
Dentro da minha capanga
Eu não tenho o livro comigo. Sequer me lembro do nome. O que li pertence à Mestra Paulinha e estava em Salvador. Mas me lembro bem da entrevista com a Makota Valdina Pinto, pessoa de imenso conhecimento da cultura afro-brasileira.

Lá, Makota Valdina chamava a atenção para a importância de que as pessoas saibam por quê cantam certas músicas, em certas situações. Ela se referia de perto à religião, e citou como exemplo o refrão dessa música no começo do post, que por sinal faz parte do repertório do Grupo Nzinga.

Acho que entendo a preocupação da Makota. Certa vez, o Mestre Poloca ensinou que é normal não entendermos a princípio muitos dos códigos, rituais, letras e mandingas da capoeira, mas que é importante descobrirmos esses significados, sobretudo saber o que significam para nós mesmos.

No caso da nossa música aqui, sei que também é cantada em terreiros de candomblé e umbanda. E além de falar de uma forma poética da herança africana no Brasil, com certeza sopra muitos segredos.

Uma coisa que acho interessante sobre essa letra é a palavra "remédios". Aliás, já perguntava a Makota Valdina Pinto: "Por que remédios?"

Acredito que um pedaço da resposta pode estar, mais uma vez, em nossos ancestrais banto do Kongo. Na religião daqueles povos, os inquices, ou minkisi (plural de nkisi), são figuras sagradas, que passam por uma preparação ritual na qual adquirem poder curativo para as mais variadas enfermidades, físicas e espirituais. São, literalmente, remédios.

Seja qual for a resposta mais completa, minha convicção é que uma cultura que deixou uma marca tão profunda na religião (candomblé, umbanda), na música (samba, maracatu), nas folias (congada, capoeira), e muito mais, com certeza corre fundo na alma desse país. E pode aflorar a qualquer momento, com toda sua força e beleza.