Às leitoras e aos leitores...

O intuito deste blog é facilitar a comunicação, fazendo circular a informação e promovendo conexões de idéias e pessoas que se interessam pela capoeira angola.
As opiniões são pessoais e, portanto, de minha inteira responsabilidade, não correspondendo necessariamente a qualquer posição oficial do Grupo Nzinga.
Peço licença às mestras e mestres, de hoje e de sempre, para humildemente participar nessa roda. Sou um aprendiz. Procurarei mantê-lo atualizado e espero que seja de algum jeito útil.
Um abraço!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Tem alguma coisa errada com a capoeira angola?

Nunca na história a capoeira angola foi tão difundida.
Brasil afora e pelos quatro cantos do mundo, hoje é possível encontrar angoleiras e angoleiros de valor.
Também não tem paralelo a quantidade de informações agora disponíveis, pelos mais variados meios, aos interessados na arte.
São livros, revistas, CDs, DVDs, teses e mais.
Na internet, os grupos se organizam para estar on-line, divulgando e promovendo suas atividades.
É raríssimo um evento cuja programação não inclua debates, palestras, exposições, lançamentos e outras formas de difusão da informação.

Onde fica a relação mestre-aprendiz, mais velho-mais novo, fundamento da transmissão do saber ancestral, em meio a essa avalanche?
Eu pergunto porque venho reparando, aqui e acolá, alguns sinais que me deixam com a pulga atrás da orelha.
Pra exemplificar, cito acontecimentos recentes.
Alguns eu mesmo presenciei.
Outros, me contaram.
Não vou revelar nomes.

Um deles envolveu um velho mestre baiano, muito conceituado e respeitado.
Convidado a lançar seu CD, organizou-se uma roda em sua homenagem.
E não é que aí mesmo um capoeirista colocou o dedo em riste na cara do mestre, desdenhando sua autoridade, seja como mestre, seja como pessoa idosa?

Outro episódio aconteceu com um conhecido mestre carioca, admirado por sua índole e trabalho.
Fora do país para uma série de workshops, como gostam de dizer por lá, só então ficou sabendo que haveria uma deserção em massa de seu grupo.
Até aí tudo bem. Divergências acontecem.
O problema é que não o trataram como qualquer mestre, por ser mestre, merece.

Pra não alongar demais o papo, um último caso, em que um famoso mestre baiano jogou com um novato.
Resumindo, acossado por mãos na cara e outras artimanhas muito além da sua capacidade de reação, o coitado mal conseguiu ficar em pé na roda, saindo dali visivelmente humilhado.

Fiquei pensando com meus botões: quais os valores éticos que a capoeira angola está semeando?
Muitos gostam de salientar uma certa ética da malandragem, da malícia e da falsidade.
Tudo bem.
Mas será que ela vale contra o forte e contra o fraco?
Contra o jovem e contra o velho?
Na roda e na vida?
Sempre?

Quem nunca ouviu estórias de desonestidades entre capoeiristas?
Inclusive de mestres ou professores com seus próprios alunos!

Uma coisa que pode estar acontecendo é que a questão comercial, a ganância para ocupar novos "mercados", esteja levando algumas pessoas a passar por cima de certos valores de convivência e respeito, indo contra a própria essência comunitária da capoeira angola.
Talvez a própria velocidade da expansão, nem sempre acompanhada em maturidade pelos angoleiros e angoleiras em formação, seja um fator.

Não sei o que vocês pensam.
Será que os exemplos que eu mencionei são motivo para preocupação?
Qual o significado de valores como justiça, liberdade, ancestralidade e solidariedade para angoleiros e angoleiras de hoje e, principalmente, de amanhã?
No mínimo, acho que cada grupo e cada capoeirista pode pensar sobre qual capoeira angola quer para si.