Às leitoras e aos leitores...

O intuito deste blog é facilitar a comunicação, fazendo circular a informação e promovendo conexões de idéias e pessoas que se interessam pela capoeira angola.
As opiniões são pessoais e, portanto, de minha inteira responsabilidade, não correspondendo necessariamente a qualquer posição oficial do Grupo Nzinga.
Peço licença às mestras e mestres, de hoje e de sempre, para humildemente participar nessa roda. Sou um aprendiz. Procurarei mantê-lo atualizado e espero que seja de algum jeito útil.
Um abraço!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Filosofia do movimento

É fácil demais perceber que a capoeira angola é diferente.

Mesmo as pessoas que não conseguem entender direito a lógica do jogo e da roda costumam compreender isso.

Em geral, essas pessoas comparam a angola com a capoeira mais conhecida para elas, a capoeira regional.

O que é diferente?

Em minha opinião, muitas coisas, mas um aspecto se destaca imediatamente para quem assiste: a estética do jogo.

Já andei falando alguma coisa sobre isso, ao abordar a questão do olhar sobre o mundo a partir de uma posição invertida.

No livr
o da Maya Talmon-Chvaicer, que eu comentei no dia 2 de dezembro passado, ela traz uma informação muito interessante, que deve ser bem conhecida por quem estuda dança clássica, mas era desconhecida pra mim.

É uma citação de uma dançarina chamada Deborah Bertonoff. Segundo ela, o ideal dominante da arte grega antiga, base da cultura ocidental, era a linha reta, no sentido de uma aspiração de elevação do espírito e da alma.

Na dança, esse ideal se expressa ainda hoje no ballet clássico, onde dançarinos e dançarinas são treinados incessantemente para, digamos, flutuar, ou seja, descolar-se do chão e almejar o ar.

Que diferença em relação à filosofia angoleira!

Sim, porque o movimento, o jeito de corpo, também é uma filosofia viva.
Pensando por aí, é fácil entender o estranhamento que muita gente sente ao ver nossa brincadeira.

Mestre Poloca uma vez me contou um episódio ilustrativo disso: Tendo ido ao médico para tratar uma dor, não me lembro onde, o dito doutor
recomendou-lhe simplesmente que deixasse de praticar a capoeira, pois o homem não tinha sido feito para se movimentar daquela maneira!! Dá pra acreditar?

Quanta incompreensão! Almejamos o céu também, com tudo que tem de forte e sagrado, mas é no chão que buscamos a energia dos ancestrais e da terra. Mãos e cabeça nos apóiam e conectam com esse "outro" mundo.

Vejam, aliás, que nesse sentido a própria capoeira regional
, com suas posturas corporais retas, golpes altos e saltos cada vez mais acrobáticos, significou uma aproximação àquele antigo ideal grego.

Se isso for verdade, têm toda razão os que afirmam que a capoeira regional é mais ocidentalizada e a capoeira angola mais africanizada.